O Instinto do Ciumento

Edvard Munch - "Amor e Dor" ou "A Vampira", 1893

O marido ciumento não quer deixar a mulher sair sozinha. A esposa ciumenta fecha a cara quando vê o marido perto de outras mulheres. O medo de perder o outro para alguém mais interessante tem consequências ambivalentes, pois ao mesmo tempo em que existe o desejo de que o relacionamento perdure, as constantes brigas e situações constrangedoras por motivo de ciúme podem acabar com um relacionamento. Cientificamente analisado há muito tempo, o ciúme parece ter explicações que variam conforme as perspectivas que o estudam.

Pesquisadores da Psicologia Evolucionista acreditam que o ciúme é baseado em um instinto primitivo relacionado à sobrevivência e à reprodução da espécie, atingindo homens e mulheres de maneiras diferentes. Segundo esses autores, homens sentem ciúme porque querem se certificar que os filhos gerados em seus relacionamentos são seus, portanto eles temem a infidelidade sexual da mulher, que, se constatada, pode afetar drasticamente a sua autoestima.

Mulheres, em seu lugar, sentiriam ciúmes de um possível envolvimento emocional do seu parceiro com uma outra mulher, porque isso implicaria em uma perda de investimento amoroso e material. Essa diferença se daria devido à capacidade do homem de se reproduzir com muito mais frequência, gerando uma maior preocupação com estes termos, e ao fato de a mulher não se reproduzir com a mesma frequência, uma vez que a gestação dura nove meses e, portanto, a sua atenção se dirige para outros aspectos da vida.

Perspectivas socioculturais, no entanto, classificam algumas ideias evolucionistas como sexistas, uma vez que desconsideram a construção social implicada neste tipo de resposta. Assim, homens criariam estratégias de controle e posse também devido a sua socialização, que pende para a objetificação das mulheres e da visão de que elas são a sua posse. Ambas as perspectivas concordam, no entanto, que o ciúme pode acabar gerando comportamentos abusivos entre os parceiros e que, em geral, o indivíduo não tem consciência daquilo que causa o ciúme.

Ainda que em muitos casos o ciúme possa gerar apenas brigas isoladas entre os casais, em outros ele pode se tornar um problema muito mais complexo. Dentre os ciumentos considerados patológicos, não é incomum ouvir histórias de pessoas que perseguiam os seus parceiros, até mesmo no horário de trabalho, chegando a espiá-los pelas janelas. Também já soube de casos em que a pessoa ciumenta agrediu aquela que fora o motivo do ciúme.

É consenso científico que temos condições de civilizar os nossos instintos animais através de um processo chamado sublimação. Nesse processo, através da socialização, o nosso cérebro conecta áreas instintivas a áreas mais cognitivas, bem como o centro de prazer, formando uma nova organização. Dessa maneira, tanto o ciúme, quando a necessidade masculina de se reproduzir não podem mais ser vistos de uma maneira determinista e nem como uma condição imutável. Tal como inúmeras outras questões sociais e evolutivas, o ciúme pode ser transformado.

Em geral, a primeira pergunta que deve ser trabalhada com a pessoa ciumenta é o motivo de ela estar se sentindo daquela maneira. É importante refletir acerca daquilo que faz de uma pessoa um ciumento ou, ainda, um ciumento patológico (em alguns casos, podendo ser considerado delirante). Em alguns casos, o ciúme pode significar uma intuição. Em termos científicos, a intuição nada mais é do que o reconhecimento de padrões que já conhecemos, ainda que não estejamos completamente conscientes deles. Assim, é justo dizer que a pessoa ciumenta pode estar identificando no ambiente ou no seu parceiro(a) algo que a faça se sentir ameaçada. Isso pode significar a presença de pessoas muito bonitas, mais inteligentes ou mais interessantes de maneira geral ou a resposta do parceiro a outras pessoas, como elogios constantes, contatos frequentes ou situações similares. Sendo identificado o que é que está gerando o ciúme é hora de começar a pensar em como resolver isso.

Da mesma maneira que o cérebro pode se tornar sociável, ele também pode retornar ao barbarismo. A civilização deve ser ensinada a cada geração e ela sempre dura, no máximo, uma geração. É essencial, portanto, aprender a lidar com esse tipo de situação e garantir que as próximas gerações sejam menos afetadas por tamanho sofrimento. Busque a ajuda de um profissional qualificado. Caso deseje saber como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode te auxiliar, fale comigo nesse link ou me mande um e-mail clicando aqui.



Anne Caroline da Silva

Psicóloga CRP 08/35969

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REFERÊNCIAS


Buss, D. M. (2000). Os perigos da paixão: Por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo. (M. Campello, Trad.) Rio de Janeiro: Objetiva.


Hupka, R.B. & Ryan, J.M. (1990). The cultural contribution to jealousy: Cross-cultural aggression in sexual jealousy situations. Behavior Science Research, 24, 51-71.


Pines, A. & Friedman, A. (1998). Gender differences in romantic jealousy. Journal of Social Psychology, 138, 54-71.


Ramos, A.L.M; Calegaro, M. Resenha: A Paixão Perigosa: Por Que o Ciúme é Tão Necessário Quanto o Amor e o Sexo. Psic.: Teor. e Pesq. 17 (3) • Set 2001